Archive for dezembro 2012

12/28/2012 0

Poema de chuveiro

By Almi Junior


Tudo isso
Nasceu debaixo do vapor do chuveiro
Por entre as gotas que escorrem no box
Eu imaginando aquelas gotas
Desenharem o seu corpo
Como se tivessem sintonia
E consciência do que riscavam
No meu quadro imaginário temporário
Como se me entendessem
Como um presságio
Um estágio de loucura incomum
Eu, água, vapor, chuveiro, box
Somos um
Um único artista
Em vários
Na tentativa de rascunhar seus lábios
Num pequeno espaço de tempo
Um momento vapt
Seguido de uma perseguição da captura vupt
Da sua imagem
Em vaptvupt
Zigzagueando na minha pupila
Gingando na minha cabeça
Fazendo roda
Sambando
Eu vi o vapor do chuveiro no box
Desenhar meus olhares presos
Que há anos venho amarrando
Seja lá quem te controla
Parabéns
Era exatamente isso que eu estava pensando


Dedicado à Mariana Miranda.

12/26/2012 1

Poucos podem ver

By Almi Junior


Trêmulo
Como os galhos lá do alto
Passo descompassado no tempo errado
Me visto de vento
Tem me visto ao vento?
Pendurado pelos varais
Que circulam o mundo todo?
E amarram minhas pernas
Em algum canto desses tantos
Em prantos engarrafados de uma noite rápida
Ontem me peguei escrevendo poesia no teto
E percebi que minhas poesias
No fundo
Vão todas pro teto
Como espasmos derramados no ar
Viram vapor e grudam no teto
Ou não
Talvez fosse só eu, inquieto
Procurando lugar pra gritar
E a poesia a me guiar
Me faz versos que só eu podia ver
Me perguntaram
"Tá fazendo o quê?"
"Poesia"
Tive a prepotência
De chamar aquela deficiência minha
De poesia
Agora acho que posso sair por aí
Fazendo poesia fantasma
Versos invisíveis
Poesias autobiográficas

12/18/2012 0

Passagem

By Almi Junior

Numa dessas
Olhei para os dois lados do meu peito
Estreito
Antes de atravessar
Queria primeiro ouvir o som
Antes de sentir o mar
Os olhos fechados
Ajudam a imaginar
O meu ser estreito
Fazendo do mar meu leito
Mas é preciso cuidado
Mar é preciso cuidado
Preciso olhar para os dois lados
Antes de começar a andar
Eu, alto
Os dois pés no asfalto
Cantando mar
Estou longe
Mas meu coração já foi
E sem ele
Vazio
Fico leve que nem vento de abril
Antes de pensar
Caio
Retraio
Vejo retratos do meu ensaio
Tardio
Os olhos abertos
Ajudam a lembrar
Desejos estreitos
Não têm lugar

12/12/2012 0

Não sei nomear-te

By Almi Junior


A aflição dos meus dias
É a cor que falta na montanha
É o que ainda está por vir
É o que já fui
E o que me fizeram
É o que fiz
Ou deixei de fazer
É o sol tapado com a peneira
É a barra da grade da cela da prisão
Que ainda não serrei
São meus olhos cerrados
Por natureza
Eu ser errado
Por natureza
É o pretexto que arrumo
Ou que entrego desarrumado
É o meu texto vagabundo
Meio dobrado
De lado
É a mão que eu deixei de estender
E deixei cair
É o fundo do poço que não me machuca
A minha poesia maluca
É o que me aflige
É o que finge ser minha aflição
A fiação que me cobre
As pedras que eu cubro
Tudo
É muro que faço
Dentro de mim
Há um espaço
Que eu nunca descubro
Guardo cada estilhaço
Como pedaço de mim
Não sei nomear-te
Não sei se é nome
Ou arte
Ou disparate

12/07/2012 2

Abafado

By Almi Junior


Piso em falso
E já não sonho mais
Tudo é uma queda demorada
Um copo
Um colapso
Um medo voraz
Um medo de nada
Medo de mim mesmo
De estar sempre preso
A uma chamada
Uma ligação insperada
De mim
Do outro lado
Do lado de cá
Sempre atendo calado
E eu do outro lado falando
Desgovernado
Irritado
Puto com tudo
Xingando o mundo
E praguejando quem quer que seja
Pergunto pra mim de cá
Se não tenho nada a falar
Digo pra criar vergonha na cara
Que eu me racho a cara
Mas eu de cá
Fico calado
Não tenho coragem de dizer
Abro o caderno
Quando é pra puxar assunto
Falo de rádio, de TV
Qualquer coisa tola
Menos o que eu realmente quero
Meu eu sério
Fica mais louco ainda
Abre um caderno
E conversa comigo
De um lado sou eu
Do outro lado é um amigo
Que me apóia
Mesmo que não valha nada
Na verdade
Dos dois lados sou eu
Implorando pra falar
Inventei dois
Pra não precisar explicar

12/04/2012 0

Mesmos versos

By Almi Junior


Engasgado
Entre os dentes
E a calor que vem deles
De uma vertigem branca
Eu perco meus dedos de vista
E fora dos meus olhos
Eles fazem o que manda a vida
Ou mandam que a vida faça
A insônia das minhas mãos
E a dor de cabeça que me traz essa poesia toda
Eu sigo cego
Meus óculos arranhados me fazem ver
Que a minha vida é toda assim
Arranhada
Eu preciso limpar as lentes
Mas a minha camisa ainda está molhada
Chove lá fora
E aqui dentro
O meu ser inteiro
Sujo como meus óculos
Sedento
Por alguma substância esquecida
Como o calor dos dentes dela
Perceber o quanto de nós se tornou fragrância
Ou quanto de tudo que dissemos
Restou apenas poesia aturdida
Em vida
Ainda percorro ao fim da linha dos seus cílios
Caminho até onde o vento faz a curva dos seus seios
Ruim é ter que morrer
Todos os dias na praia dos seus pés

12/03/2012 0

Mira, anda

By Almi Junior


Mira
Anda
Olha os seus olhos no espelho
E me diz
Como olhar nesses olhos
E não ser feliz?
Mira
Anda
E anda em minha direção
Com estes olhos de refúgio singular
Mira
Anda
E atira em mim esse olhar
Faz do seu olho meu abrigo
Que eu faço desse abrigo
Meu lar
No meu lar
Seu olho
É luar

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